Certa vez fui convidado a fazer parte de um partido político. Bons tempos de universidade, para fazer parte de uma ideologia nova, de cabeças pensantes, cérebros inquietos e corações jovens com disposição para mudar.
Aceitei, de pronto, e me enfiei num mundo o qual jamais imaginei estaria presente. E toda aquela vontade de fazer diferente, de insistir e lutar bravamente pela mudança, pelo novo que chega pra renovar e agregar valor a vida diária, foram tomandos cada vez mais conta de minhas atitudes e pensamentos.
Aos poucos, fui ganhando espaço, ganhando espaço, ganhando espaço. Discutindo ideologias e idéias cada vez mais significantes e não percebi o quanto a política começou a fazer parte do meu dia.
Comia, respirava, bebia, enfim, enchia-me de política, sem perceber o quanto isso começava a afetar minha vida. O quanto meu assunto mudou para apenas um, e nada mais. Nada de novos amigos, família, jornal, carnaval, feriado.
Foram anos a fio trabalhando intensamente na formação de um mundo melhor. Anos que me custaram muitas horas de sono, de risadas, de amor, de fé, de tudo.
E agora, olho pra traz e vejo, que talvez a melhor coisa que eu teria feito na vida, teria sido abandonar a política. Não digo pelos meus cabelos, talvez eles sejam a parte menos importante.
Mas não teria passado pelas frustrações de estar num mundo-cão. Cão que morde, não ladra. Que carrega espadas, espinhos, pedras e mãos de pilão. Tudo isso machuca, magoa, irrita.
Talvez algumas obras e projetos elaborados por mim tenham dado certo. Muitos não. Caíram na mão de empreiteras acostumadas ao ato falho corrigido por outros atos falhos.
Mas mesmo essas obras tiveram por início a boa fé de alguém que queria mudanças. Que propôs, mas que foi engolido, assim como muitos outros, pela máquina pública. Pela lei do retrocesso. Para muitos, retroceder é a melhor forma de acabar com os sonhos dos outros.
E todo aquele trabalho, escrito, pensado, debatido, testado…tudo é jogado ao alto. Rasgamos as atas, as pastas, os arquivos. Queimamos tudo. Tudo.
Mas fazer o quê? Isso é política…acaba tudo em pizza…ou miojo??